A Carne de Deus.

O Maestro que não parava jamais de sonhar foi abrindo sua luz alada sobre o universo latente. 

O oceano começou a fervilhar, ai, olha, estou ouvindo uma orquestra salgada! Sobe, claridade brutal, das fossas abissais! Astro incandescente, clareia aqui, clareia ali! 

Sorria e amava, impregnando a Mãe. Seus brotos rasgavam quilômetros infinitos de chão vermelho. Veio o Levante ar agitado, arrastando, a água salgada abriu-se em força de maré, insinuando-se pelos recônditos recortados, que davam forma aos escarpados da terra nórdica gelada. 

Seu espírito tocou o mato orvalhado e em seu regaço ainda morava o satélite prateado que foi elevado às alturas do firmamento, ao lado dos luzeiros que se agitavam no vácuo silencioso. 

Ali, Eu Sou, a verdade e o amor, brincava de sonhar enquanto a vida pairava por entre os harmônicos que animavam a sua festa interminável. Foi lindo quando Ele viu que era bom. E se fez três, Ele não parava!

Tocou na tela do mundo e sorriu para todas as suas amadas almas, criadas. 

E eis que ouviu no Médio Oriente de seu filho Abraão, o som dos pezinhos delicados da menina vestida de sol, que acreditava no abundante amor, enquanto todos os outros violentavam para tomar só para si, ávidos, uma porção do fruto da Mãe. A menina que Ele criou com aquele sonho licoroso de pai, paizinho, Abba, papai!

Naquela menina Ele cismou de nascer para sentir o sangue e a carne de suas criaturas amadas. E quando foi aparado, aqui no mundo revirado, Ele lavou a cicatriz pútrida que o medo construiu. Na cruz, Ele lavou. E quem quiser olhar para dentro, é capaz de encontrar o caminho de raízes que crescem para o alto! Lá é aqui, agora. Aqui, dentro, do meu, do teu coração. 

Emanuel está nascendo aqui, agora, ontem e hoje, sempre que o sol nasce e se põe, agora mesmo, depois da hora amarga, da dor profunda, mesmo depois que a vida parece escoar, ainda depois disto, mesmo quando o nevoeiro quente risca e avermelha o céu, ainda assim. Após a invasão das forças malignas e seus jatos de horror ácido, destruindo a carne, envenenando, invadindo o útero do mundo com sua lama suja, viscosa e tóxica... Mesmo assim, Ele vem e lava.














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