Jornada Vertiginosa pelas Horas do Tempo

Na profunda coisa levo minhas mãos
Despejo a alma lívida e combalida
Como os elementos
Que não invocam nomes para si
E ainda assim se impõem
Rasgando os dias e as noites

Resguardo quimeras
Esquivando do açoite
Obstinado em não acabar

Corrompo as prosaicas horas
Escorrendo fleuma
Vertendo alguma cor

O mundo em trânsito
Limitado por horríveis arestas
Que esquentam aquele lodo parado

Neste lugar
O que existe é inacabado
Aos pedaços
Vivendo de assombro
E sofreguidão cravada

Derramo mais uma vez, num bailado
Sem ser só eu
Sou também o outro, em par
Infinitamente maior, impregnado

Ouso apuro delicado em tua direção
Meu conluiado, meu igual!
Me atrevo a te enxergar
E a limpar tuas alquebradas asas
Duro e seco, como eu!
Sujo e descorado, como eu!
Germinando do árido chão, como eu!
Precipitando nos corpos animados
Para fazer o amor, como eu!

A trama de nossas mãos, entretidas no salto
Salto sobre os escarpados
Pensa na profundeza das vagas
Que se abalam no inexplicável oceano

A orquestra se levanta
E levantamos com ela
Dissolvendo em som

Fé despudorada
No voo de deuses
Assentando no ar, pairando
Sobre o elevado indistinto
De só bem quer

Que estranha fé... A minha, a tua?
Despedaçando assim a argamassa
Da razão?
Subvertendo aquela inerte lógica?

Mas onde isso tudo vai parar?

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